domingo, 14 de setembro de 2008

Expo Zaragoza 2008 - Parte 2

Antes ainda de falar sobre a Expo de Saragoça, ou Zaragoza em Espanhol, convém perceber o seguinte:
A entidade que regula a realização das Expos é o Bureau Internationel des Expositions (BIE) e foi estabelecido numa convenção diplomática, em Paris, corria o ano de 1928. Este organismo NÃO financia a realização da Expo; é, meramente, uma entidade reguladora do evento e aquela que decide sobre as candidaturas dos países.
O regulamento da realização da Expo refere que existem dois tipos principais de Expo:
- International Registered Exhibition (ou World Exhibition), que se realiza de 5 em 5 anos, com duração máxima de seis meses, sem limjtação de área e cujo tema deve ser geral;
- International Recognised Exhibition, que se realiza no intervalo entre duas exposições do tipo anterior, com duração máxima de três meses e área máxima de 25 ha e cujo tema deve ser especializado.
Devo referir que a Expo'98 de Lisboa foi uma "Specialized Exhibition", com 50 ha de área, onde participaram 155 países e que teve 10 128 204 participantes! Não se admirem por esta categoria não estar incluída na lista atrás referida, porque há uma razão lógica para tal: esta sub-categoria foi incluída nas International Registered Exhibition (ou World Exhibition) somente em 1988, de maneira a que se possam tratar temas mais "aplicados" em grandes exposições.
A Expo Zaragoza 2008 foi uma International Recognised Exhibition, com 25 ha (a restante informação ainda não é oficial). (fonte: www.bie-paris.org)
Dito isto, para não parecer parcial, devo dizer-vos que, de um modo geral, a Expo de Saragoça não foi surpreendente para quem já tinha estado na de Lisboa. Lembro que já passaram dez anos e que não se viu um salto mensurável na criatividade, imaginação e organização do espaço.
Estava interessante, mas não supera a de Lisboa. Também é lógico que não podemos esquecer o cariz de ambas as Expos e que a nossa era, por natureza, maior e mais importante. Ainda assim esperava encontrar coisas de interesse... e encontrei!
Por partes... eis uma das entradas, quanto a mim a mais imponente:


Pavilhão Ponte

Realmente tem uma belíssima entrada. Prometia, a coisa.
Não muitos passos depois, deparamo-nos com o pavilhão dos Congressos, algo semelhante ao antigo pavilhão da Utopia, agora chamado de Atlântico. Isto porque é lá que ocorrem alguns espectáculos, não pela sua forma, que é bem distinta:

Duas perspectivas do Pavilhão dos congressos


Um edifício cheio de personalidade, sim sr. Parece que vai funcionar, tal como o nome indica, como centro de congressos e sala de espectáculos.

Uns metros mais à frente encontra-se o pavilhão mais estranho; estranho não pela sua forma, apesar de ser bastante arrojado (em gota) e de uma altura respeitável, mas por ser oco e não parecer que vá ter grande utilidade no futuro. Lá dentro não havia mais nada a não ser uma pequena exposição no piso térreo, uma outra no intermédio e depois uma grande escultura, reprensentando uma porção de água. Um efeito magnífico, visualmente brilhante. O que me perturba é que o tema da Expo é a Água, num claro alerta para que a poupemos... o que está muito bem, mas e então os outros recursos? Construir um enorme edifício para, aparentemente, não permitir que seja usado para além da Expo? Não me parece muito adequado. Espero que esteja enganado e que, afinal, os nuestros hermanos tenham algo pensado para ali.


A Torre de Água, em forma de gota



Dois olhares do interior da Torre e a enorme "Gota" de água


O recinto, no geral, era bastante acolhedor, ainda que, uma vez mais, não fosse avassalador. Quem se lembra da nossa bonita calçada portuguesa na imponente alameda dos Ocenaos, fica um pouco decepcionado com o chão em alcatrão desta nova Expo. De resto, nada de extraordinário embelezava o recinto. Aqui ficam alguns apontamentos:




Avenida principal do recinto

Assim que passei nesta avenida lembrei-me de imediato dos jardins da água de Lisboa. Lembram-se daquela cascata perto do pavilhão da realidade virtual? Vêm aqui alguma semelhança? uhm...

Outra coisa engraçada, mas novamente não original, é o chamado "Despertar da Serpente":




Despertar da Serpente

Um bonito espectáculo de animação de rua, dinamizado pela companhia do Cirque du Soleil. "Ena!, que chique", pensei eu quando soube desta curiosidade. Bom, mas ao vê-los passar pensei... "isto é-me familiar..." decerto que também é para vós... estão a ver? não? e se eu disser... "Peregrinação"? Lembram-se? Pois é, também havia na nossa e, deixem-me que vos diga, que não tinhamos os artistas do Cirque, mas fizemos um melhor, maior e mais diversificado espectáculo de rua. Até aqui estávamos claramente a ganhar nesta minha comparação. Infelizmente não consegui entrar no Fluviário, um pavilhão que pretende mostrar a flora e fauna das águas do mundo, devido à enorme afluência de visitantes. O mesmo se passou com o pavilhão de Espanha, que por fora era bastante interessante.
Adiante.
Não posso deixar de referenciar o pavilhão de Portugal, que tinha patente uma simples exposição sobre os três rios que Portugal e Espanha partilham: Douro, Tejo e Guadiana. Bonito, sem dúvida. Todavia, eu teria feito outra opção para mostrar o nosso país ao mundo... não apostava nesta partilha de águas, o que me daria muito mais flexibilidade para fazer brilhar Portugal: As lagoas dos açores, as marinas, as cidades portuárias... um oceano de possibilidades. Enfim, são opções.
O que me deixou impressionado foi o pavilhão da África Sub-Sahariana. Vários países a partilharem um mesmo espaço, mostrando-se ao mundo com um mesmo objectivo. Mas o que é realmente admirável a nível visual é o exterior do pavilhão, feito de pequenos quadrados ondulantes que parecem que têm vida durante o dia e que a ganham durante a noite com a projecção de vídeos:



Pavilhão África Sub-Sahariana


Para acabar esta parte, que este artigo já vai demasiado extenso, só mais um apontamento acerca do espectáculo final da Expo; naturalmente não conseguirei fazê-lo sem que estabeleça comparações com o "Aqua Matrix" da Expo'98.
Primeiro a imagem, as palavras depois:




Aqui sim! Impera a originalidade e revolução intelectual. Um espectáculo sobre o aquecimento global, mostrando o degelo dos glaciares, com projecção de imagens sobre as consequências da exploração exagerada dos recursos do planeta pelo Homem. É bonito, com uma mensagem muito poderosa que tem a capacidade de nos deixar a reflectir sobre a nossa conduta e sobre a nossa responsabilidade colectiva. Contudo, não é tão visualmente exuberante como era o Aqua Matrix. Mas é, sem dúvida, um dos pontos fortes da Expo.
Muito mais havia a dizer e mostrar, mas não quero que percam o interesse por este tema, devido às demasiadas palavras que aqui coloquei.
Quero, no entanto, deixar um apontamento, em jeito de curiosidade:



Os nossos amigos espanhóis que me perdoem... mas ou eu sou muito old fashion, ou não é um bocado estranho fazer o chamado "chi-chi" mesmo à entrada do WC, onde qualquer transeunte pode ver o, digamos, instrumento, do visitante? uhm... cheira-me que o arquitecto deve ser do estilo exibicionista...

Se chegaram até aqui, merecem o meu obrigado e reconhecimento por não terem ficado carecas e cheios de rugas enquanto liam isto. Pode não parecer, mas no geral, considero que esta Expo teve um nível interessante.

O próximo artigo traz novidades "Exposianas".

Até lá, deivo-vos uma imagem do amigável "Fluvi", a mascote da Expo, com um sujeito qualquer que se meteu na foto (se calhar era o arquitecto...)


BM

1 comentário:

Andrea Santos disse...

Pequena "achega": acho que o espectáculo final de que falas tem um objectivo diferente, ou, pelo menos, mais direccionado do que o da Expo98. enquanto que o Aqua Matrix era um espectáculo de comemoração e também de encerramento, o espectáculo da Expo Zaragoza era bastante diferente (não era de encerramento)... aquela foto que mostras é bastante elucidativa... aquelas imagens quase de horror contrapostas à do bebé... era uma chamada de atenção... para que as pessoas compreendam que a vida depende da água... bla bla bla...
A sensação que se ficava no final do aqua matrix era bastante diferente daquela sensação de "nó no estômago" que este espectáculo da Expo2008 deixava.... e não era mesmo esse o seu objectivo?
Ah, ainda estou à espera das fotos...