domingo, 28 de setembro de 2008

PELAMIS, a Cobra do Mar

Que o debate em torno das energias renováveis está na ordem do dia, não é novidade para ninguém. Que a elevada dependência face aos combustíveis fósseis é preocupante e tem de ser alterada, também não.
O que é novidade é a instalação da primeira Central de Energia das Ondas da Europa! E onde? A cerca de 5 km ao largo da costa de Aguçadora, uma freguesia do concelho da Póvoa do Varzim, Portugal.
(fonte: Pelamis Wave Power Limited)

Até aqui, as grandes apostas no campo das energias alternativas tinham sido a Eólica e a Solar. Contudo, a comunidade científica tem vindo a investigar outros tipos de energias não convencionais ainda não tão conhecidas do público em geral. Existe um enorme grupo, por exemplo, que até é bem conhecido de todos nós, que tem investido na investigação de energias como a Geotérmica (do grego "Geo" - Terra e "Term" - Calor, e que é a energia gerada pelo calor armazenado na Terra) e Energia das Marés (forma de energia hidráulica que converte a energia das marés em electricidade e outros tipos de energia útil). Sabem qual é o grupo?? Google, diz-vos alguma coisa? Pois, esse mesmo.
Desta vez, porém, a novidade é proposta por um consórcio atípico: uma empresa Escocesa - Pelamis Wave Power Limited, as portugesas EDP e EFACEC (pelo menos de nome... já que mais de 40% da EDP já não é portuguesa... enfim, outras conversas e com pano para mangas) e uma empresa líder nesta área, a Babcock and Brown Limited.
Esta nova central (com uma forma semelhante a uma cobra do mar), que custou cerca de 9 Milhões de Euros, assume uma posição de vanguarda, ao utilizar a energia das ondas, alternativa cerca de duas vezes mais eficiente do que a Solar, por exemplo, e a sua investigação ainda só está no início, enquanto que a Solar já conta com alguns anos e muitos grupos de cérebros a trabalhar nela. Agora... será uma alternativa competitiva à Energia Nuclear? Vejamos...

Esta original central, com 140m de comprimento e 3,5m  de diâmetro, flutua parcilamente à superfície do oceano e é constituída por quatro secções, entre as quais existem três motores geradores - Pelamis Wave Energy Converters (PWEC), que lhe dão o nome. Estas quatro secções estão unidas por um sistema de uma bomba cíclica denominado vulgarmente por "Carneiro Hidráulico" ou "Aríete". O movimento deste sistema, provocado pelas ondas, vai "empurrar" um fluido para um compartimento que se encontra a alta pressão, responsável por libertá-lo a uma taxa constante através de um motor gerador, produzindo energia. Ligado a estes motores geradores, encontra-se um cabo submarino que vai permitir "transportar" essa energia para uma sub-estação em terra, que a converte em electricidade que é depois injectada na rede eléctrica portuguesa.
Cada conversor produz uns modestos 750kW, pelo que central, como está actualmente, produz 2,25MW.
Mas esta é só a primeira fase do projecto. Pensada está já a hipótese de se instalarem 25 geradores adicionais, o que permitiria elevar a sua produção até aos 21MW, o que será suficiente para "iluminar" cerca de 15000 casas. Impressionante, não?
Então se pensarmos que depois desta segunda fase, este sistema vai permitir poupar a emissão de cerca de 60 toneladas de CO2 por ano e que se fosse adoptado a uma escala mundial poderia chegar a 1 a 2 biliões de CO2 por ano, é ainda mais avassalador.
Mas, como todas as Belas, tem um senão... a violência das ondas pode danificar o equipamento. Já para não falar nas tempestades...

Quanto à pergunta que lancei em cima... são precisos 6500 geradores iguais a este para igualar a eficiência energética de uma central nuclear, o que significa um investimento de cerca de 15 Biliões de Euros, enquanto que para construir uma central nuclear bastariam 4 a 6 Biliões de Euros. Claro que aqui não estou a considerar os custos de manutenção... e sim, são altos em ambos os casos.

Parece que a Nuclear é a saída... mas... e os resíduos que produz?

Talvez o mais sensato será idealizar um mundo sustentado num sistema de complementariedade entre várias energias alternativas; nenhuma é perfeita e muitas não são suficientes per si , mas parece-me que o futuro reside na exploração de diversas combinações não convencionais.
Agrada-me!

Nota: "Pelamis" é mesmo uma cobra do mar e é assim:



BM


2 comentários:

Ana disse...

Só por curiosidade, disseram-me que este método de utilização da energia das onda é inovador e a primeira vez que se utiliza. A verdade é que a energia eólica sai bem mais barata (na relação custo/quantidade de energia produzida) mas obviamente não são apenas os interesses meramente energéticos que se levantam.

Cerca de 50% da costa portuguesa é marítima (ao contrário da grande maioria dos outros países europeus) por isso parece-me muito bem que se aproveitem os nossos recursos naturais.

(pequena nota: esta é a primeira coisa que escrevo na net com o meu computador novo).

=)

Bruno Martins disse...

Exactamente! Náo foi à toa que Portugal foi o país escolhido...

e então, que tal o pc novo? ;)