sexta-feira, 27 de novembro de 2009

"A Vida num Sopro"

... de José Rodrigues dos Santos, mesmo com as suas 611 páginas, é um romance que parece evaporar-se por entre os dedos de um leitor que, por muito que queira, não consegue deixar de se colocar na pele de Luís, o "deitor" e alferes veterinário. Bem, pelo menos se for homem, como eu, que me vi a imaginar o que faria naquela situação.

Ou na pele de Amélia, se for uma delicada senhorita, quem sabe.


É este o livro que quero recomendar, numa semana que se finda com um quadro febril, que por momentos todos acreditaram ser sintoma de Gripe A. Mas fiquem descansados. É só uma inflamação aguerrida da garganta, fruto de descuidados desvarios à chuva.
O que interessa, porém, é falar sobre este, como direi, fantástico talvez, livro do autor que nos habituámos a ver no Telejornal.
O que parece, a princípio, um simples romance de adolescentes numa época dificil do país, evolui para uma série de acontecimentos que envolvem Amor, tragédia, desencontros, traições, pequenas vitórias, grandes derrotas, aventuras e política. PVDE, Estado Novo e a oposição clandestina, esta última a expensas dos revolucinários comunistas, inconformados pela então actual "situação".
Com o desenrolar da história do amor entre Luís e Amélia, retrata-se um país de perseguições, de provocações, de bufos, de delito de opinião, de violência, do "se não és por mim, és contra mim".
Paralelamente, mesmo ali ao lado, eclodia a Guerra Civil Espanhola, onde os "rojos" foram acossados pela união de esforços de tropas e governos fascistas, que ajudaram o exército espanhol a derrotar os republicanos, violando escandalosamente o acordo de Não intervenção redigido pelo Reino Unido, e proposto através de uma marioneta França. A verdade é que, utilizando a capa da ajuda humanitária, que deveria levar alimentos e agasalhos aos refugiados espanhóis, os apoiantes da esmagação da ideologia comunista pela força e pelo sangue, fizeram seguir armas, bombas e munições em camiões cheios de pólvora e vontade de destruição. Eram praças de touros repletas, arenas enormes que se tornavam pequenas, sempre que a Legião Estrangeira, constituida por mercenários sangrentos, tomava pela força um reduto da República e fazia prisioneiros todos os resistentes, que fuzilava depois, sem qualquer dó nem piedade.
Foi neste ambiente que Luís se envolveu num episódio de assassinato provocado por um devaneio do Amor e que, por causa disso, se viu nas mãos da PVDE e na iminência de ter de se render ao regime. Optou por outra solução. Pela Liberdade! Ainda que isso lhe tenha custado a vida.
A não perder.
BM

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