sábado, 15 de janeiro de 2011

«Hoje choramos a tua morte, amanhã vamos fazer chorar quem te matou»

Enfim, LIBERDADE...

Após 23 anos no poder, o ditador Zine El Abidine Ben Ali viu-se obrigado a fugir da Tunísia, país que atormentava no seu jugo ditatorial.

Poder-se-á dizer que houve eleições e que ele as ganhou. Claro que houve. Também não as houve na Alemanha, levando Hitler ao poder?

Quando esta situação despoletou já nem conseguia lembrar-me bem se o homem era Presidente ou Rei... tudo porque quando por lá passei, em viagem, as imagens, os cartazes, os pendões, as pinturas, etc etc, em tudo onde os nossos olhos poisavam... o que viam era... ele. A olhar para nós com ar de "não precisam de ter medo de mim, enquanto seguirem as minhas orientações; estou cá para vos proteger meus filhos. Se vos levar à miséria para isso, tenhai paciência, pois tudo tem um preço."



Eis alguns exemplos que EU consegui fotografar à socapa, para não ficar sem máquina, nem ser interrogado numa choça qualquer a que chamam de esquadra.

Foi pena que para esta Revolução do povo Tunisino tenha sido necessário chegar a um extremo que todos lamentamos. A morte, ou melhor, o suicídio de um jovem que estava prestes a licenciar-se em Ciências Informáticas. Ao que parece o jovem Mohamed Bouazizi, de apenas 20 anos, subsistia vendendo frutas e legumes numa banca que terá sido confiscada pelas autoridades que, no processo, o espancaram e humilharam. Depois de ter tentado o possível e o impossível para legalizar o seu negócio, em vão, gastou o que restava do seu dinheiro comprando um garrafão de gasolina, que despejou pela cabeça abaixo, deixando depois imolar-se pelo fogo.

O coitado, ainda por cima, não morreu logo. Foi transferido para uma unidade de queimados onde ainda foi visitado pelo "presidente", que lhe desejou as melhoras. O espertalhão foi tentar lá meter água na fervura, mas a semente estava lançada. Nos dias seguintes centenas de jovens licenciados e desempregados seguiram o exemplo de Bouazizi e protestaram como puderam (confirmadas cerca de 20 mortes, pelas autoridades). A onda de protestos cresceu de tal forma que a situação descontrolou-se. O Povo uniu-se. E o Presidente viu-se obrigado a dissolver o Parlamento e a sair em debandada para a Arábia Saudita. Decerto esse país, também ele ditatorial, vai acolhê-lo como irmão.

O funeral do jovem tornou-se um comício. E a Revolução tomou as ruas.

Só uma coisa me faz confusão nisto tudo: o Presidente interino é agora Fouad Mebazaâ, do mesmo partido do antecessor, que teve, inclusive, várias pastas ministeriais durante o seu governo.
Uma Revolução para ficar tudo na mesma??

Espero que não.

Para já, Parabéns ao povo da Tunísia. Essa bela terra onde dormi no deserto, comi em casas trogloditas, subi o Atlas e fiz Rallys. Tudo isso sem me aperceber como sofria aquele povo.


BM


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