Confesso que não fazia ideia sobre o que era este "Resgate" que, de repente, parecia fazer parte de desejo/obsessão da minha mãe.
Confesso também que não costumo ver TV, pelo que todas as referências às reportagens que a jornalista Alexandra Borges tem conduzido na TVI, me passaram completamente ao lado.
Acontece, porém, que estando de férias e com o livro de Murakami completamente devorado, me vi sem qualquer literatura, algo que não suporto muito bem.
Nesse dia de praia, aproveitando uma ida da minha mãe à casa de banho (abençoadas necessidades), cedi à tentação cleptomaníaca e, como se rouba um rebuçado a uma criança, resgatei para mim este livro.
Mas só curiosidade não mantém qualquer livro nas nossas mãos até ao fim. Li uma, duas, dez, vinte páginas. De seguida. Quando dei por mim, estava a meio do livro, lendo sem parar, vendo fotos fantásticas de brancos e pretos felizes lado a lado.
Li o "Resgate" num só dia. Não percebi ser possível pôr de lado o relato emocional que quer a Alexandra, quer a sua sobrinha Rita Borges, conseguiram decalcar para o papel, sem perder o teor factual que todos precisamos de integrar para perceber que, por vezes, os nossos pequenos problemazinhos são tão ridículos como o é a nossa tendência para os tornar gigantes.
Muitas destas páginas fizeram-se estremecer, com lágrimas a quererem saltar-me dos olhos sem permissão. Não sou de chorar e muito menos de ficar abalado com a crueldade do mundo. Muito por culpa da minha profissão que me fez ver o quão efémera é a vida.
Mas nada, nem profissões, nem experiências, nem relatos... nos preparam para o que se lê neste livro.
Trata-se de ESCRAVATURA INFANTIL.
Crianças vendidas pelos próprios pais, muitas vezes, para estes poderem sustentar a restante família. Crianças vendidas a pescadores do Lago Volta, no Gana, que os obrigam a trabalhar 14h/dia, 7 dias/semana, sem condições, por apenas uma ração de comida por dia.
Crianças que, muitas vezes, não sabem o seu nome, a sua idade e em que dia nasceram. Crianças que não sabem o que é um carinho, um abraço ou um sorriso. Crianças que temem espirrar ou rir ou falar, por poderem ser atirados ao lago, empestado de crocodilos. Muitos deles nem sabem nadar.
Não são pessoas, muito menos crianças. São coisas. Objectos. Máquinas que, depois de compradas, têm de ser rentabilizadas pelo seu "dono".
Este livro é o relato na 1ª pessoa de pessoas incríveis que dão mais de si nesta viagem que a maioria de nós em toda a vida.
Por partes:
Rita Borges era uma jovem estudante universitária, vítima do capitalismo feroz que vivemos. Materialista e completamente infeliz, palavras da própria. A Rita foi uma e veio outra mulher.
Ela, a tia e o repórter de imagem, Júlio Barulho, contam-nos a saga de quem partiu para o Gana, para dois deles pela 2ª vez, para resgatar aos pescadores, mais crianças escravas.
Foram bem sucedidos, posso verter-vos já. Mais dez crianças, perfazendo já 93, as que uma ONG americana, com quem Alexandra trabalha, alberga nos seus orfanatos no Gana.
Alexandra trabalha com Pam e George, outros dois heróis que peço que conheçam lendo o livro e não por mim.
Este trabalho estóico e fascinante, deve ser uma bálsamo para todos nós. Para mim foi. É!
Gostava que o lessem. Que o comprassem, para ajudar este projecto. E que aceitassem o repto dos autores e enviassem uma carta a u dos meninos dos orfanatos.
Obrigado,
BM
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