segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Cérebro

Se há uma coisa boa de andar de um lado para o outro a somar Qualidade à Saúde em Portugal, é o facto de poder aproveitar as viagens para ler.

Depois de ter lido "No teu Deserto" de Miguel Sousa Tavares e ter ficado verdadeiramente desapontado, seguiu-se "Cérebro", na versão portuguesa, de Robin Cook.



Mais um livro deste autor que, passados cerca de 20 anos após a primeira edição, continua a ser aliciante e estranhamente actual.

Apesar da versão portuguesa ser francamente má, em termos de correcção de português e adequação de termos, a história e a fluidez conceptual conseguem superar alguns momentos de profunda irritação por ler erros de gramática, semântica e de todo um prontuário de língua portuguesa.

A história é de um médico com uma carreira promissora, um génio da Medicina, que se apaixona por uma interna e que se vê envolvido numa estranha investigação com métodos altamente questionáveis, cuja integridade ética foi a última das preocupações.

Revoltado com as coisas que começa a descobrir, torna-se demasiado perigoso. Tentam abatê-lo. Silenciá-lo. Por trás, a orquestrar toda esta campanha de teoria da conspiração está, quem mais poderia ser, o governo Americano e a sua obsessão pela segurança nacional.

Um médico que só queria salvar vidas. Contribuir para a evolução da ciência. E se isso significasse um Nobel, pois que remédio.

Pelo meio de cérebros desaparecidos, radiografias a mortos, jovens saudáveis com sintomas manipulados, clínicas de ginecologia e radiação, a trama desenvolve-se de maneira a que se torna quase impossível largar o livro de leitura compulsiva.

Por falar em compulsividade, há uma frase interessante neste livro que teimo em partilhar com todos: "Fez uma lista, tal como é habitual nas personalidades compulsivas!", isto a propósito do médico que teima em catalogar e organizar tudo ao ínfimo pormenor.

Não sei se costumam fazer listas... de compras, de tarefas (as famosas "To do list"), de sonhos, de metas, etc, etc. Mas eu costumo e fiquei a pensar... Serei eu compulsivo? Obsessivo?

Ou apenas um jovem com demasiados projectos?

E depressa percebi que esta vontade de fazer coisas, de apresentar trabalhos, de marcar a diferença, de abalar consciências com palavras, com arte e com música, de cunhar o mundo... não é uma obsessão. É apenas uma inquietação de quem quer todas as coisas, de quem não quer morrer quando morrer o seu corpo, por oposição a uma vida simples e despreocupada.

Que maneira melhor de elogiar um livro, que dizendo que ele nos deixou a pensar?!?

BM

4 comentários:

Ana disse...

Assim sendo, também sou obsessiva.

Adoro fazer listas: de compras, to do lists, das coisas que tenho que levar de férias, das prendas de natal, dos postais de natal, dos aniversários, de gastos e de proveitos, etc, etc, etc.

Eu gosto tanto de fazer listas que tenho um blog só para isso.

Enfim, na verdade não preciso de ler o teu blog para saber que tenho uma grande pancada.

Andrea Santos disse...

LOL.

Acho que a maiora parte das pessoas é obsessiva, então...
Toda a gente faz listas! A minoria será aquela que não o faz... ainda hj estive a reparar... os meus colegas de trb TODOS fazem listas... ele é lista de encomendas, listas de pessoas, listas de afazeres, listas de compras... enfim.
É a forma mais fácil de não nos esquecermos de nada.
bjs

Bruno Martins disse...

Olá às duas.

Bem, isto significa que, actualmente, a maioria das pessoas comporta-se de maneira obsessiva em alguma matéria da sua vida.

Significa que o ritmo de vida aumentou tanto que as pessoas tem medo de se esquecer seja do que for e, por isso, elaboraram listas e listinhas e memorandos e agendas electrónicas com tarefas, com encontros, com trabalhos, com presentes, com eu sei lá o quê e, no processo, esquecem-se de SE colocar na sua lista de prioridades.

É este o mundo que temos, o que o capitalismo construiu.

Cada vez vamos perdendo a noção de self, confundido felicidade, com sucesso.

Bjs,
BM

Ana disse...

Bem, vou ter que discordar de ti. A maioria das listas que elaboro tem muito a ver comigo, precisamente para evitar isso. Associar a elaboração de listas a perder a noção de self, parece-me uma associação muito falaciosa.

Ah, e fazer listas em agendas electrónicas, para mim, não é para fazer listas. É para brincar com gadgets. :)