Tenho uma lista (mais uma) infindável de coisas para escrever. Mas tal como disse no artigo a que chamei A Maior Flôr do Mundo, como o livro, a tentação falou mais alto e pronto, já está.
"Caim" totalmente devorado.
Uma vez lidas todas as páginas deste conjunto de histórias que Saramago nos trouxe através do insaciável Caim, assassino do seu irmão Abel, continuo a achar que a onda de ódio e de irritação, que ultrapassou já, em muito, apenas o rótulo de polémica, é, tão somente, uma verdadeira histeria. Uma camuflada e caduca tentativa de mal-dizer quem tem opiniões. Sim, opiniões.
Porque é disto que se trata, ou não? A opinião de um autor. Nada mais.
Porque razão ficou tanta gente indignada por Saramago ter escrito coisas como "Quer dizer, além de tão filho da puta como o senhor, abraão era um refinado mentiroso"? Que sociedade é a nossa, quando se insurge um punhado, grande note-se, de pessoas a descredibilizar um homem que tanto deu à literatura e ao país, diga-se fazendo justiça?
Eu sei qual é. É uma sociedade que não questiona. Que aceita dogmas, mesmo que, por definição, nunca conseguirá explicá-los. Que aceita a fúria de Deus, porque ele tudo pode e mais vale cair-lhe nas boas graças, que nas más. E porque assim já era quando nasceram, porque raio haveria agora de mudar?
O que me parece, em boa verdade, é que Saramago, uma vez mais, acaba de prestar um grande serviço público a este país de brandos costumes. Ai, somos todos católicos e acreditamos no senhor, não é verdade?
Mas, quantos de vós, católicos da mão no peito, já leram a bíblia? Mesmo daqui vejo muito poucos dedos no ar. O que ouviram foram interpretações, foram pontos de vista que vos foram sendo passados pela família, Padres ou pseudo-eruditos.
É por isso que muita gente estranha ver uma bíblia na minha mesa de cabeceira. Porque eu, por defeito de formação talvez, científica como convém, tenho aversão a aceitar sem ter meio de provar. E muito menos de falar sobre coisas que... não conheço.
E parece-me que, pelo meio das opiniões que podemos, ou não, partilhar com o Nobel, ele lá vai contando vários episódios Bíblicos, perpetuando a magna história e a palavra do senhor; permitindo, assim, que aqueles que se deixam assustar pelo volume biblico da Bíblia, possam ter acesso a algumas dessas histórias, através das viagens no tempo-espaço do nosso, agora famoso, Caim.
Até o simples nome de Caim. Acho que todos já tinhamos ouvido falar nele, sem dúvida. Mas em boa verdade quem é que o conhecia, de facto?
Agora conhecem. E se quiserem conhecer mais histórias, como esta, têm sempre a Bíblia. Mas preparem-se para uma leitura muito mais prolongada e muito mais difícil do que a de Saramago.
Ah e não se admirem quando lerem e se aperceberem, linha após linha, que o senhor, ao contrário do que andamos todos (??) a tentar implementar no mundo, consegue ser muito pouco tolerante.
Se Saramago tem razão no que diz? Que importa isso?
Pôs-nos a discutir o assunto.
E é isso que importa.
Obrigado Saramago.
BM
3 comentários:
Concordo com a histeria generalizada e infundada. Ui, não se pode tocar no nome DO Senhor se não fôr para, a seguir, dizer "Amen".
Gostei do livro, uma escrita maravilhosa... afinal, é nobel!
Curioso, é ver pessoas que baseiam a sua actividade e pensamento diários na ciência, serem devotos e católicos praticantes... nãoe stou a dizer que é mau ou bom, apenas curioso...
só mais uma coisa que não tem nada a ver com o post... vais receber as prendas de solestício de inverno (do hemisfério norte) no dia 21? LOL
era mto mais giro. com um festival pagão de arte, música e... isso mesmo.
BM
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