domingo, 29 de novembro de 2009

Finalmente... Caim

Tenho uma lista (mais uma) infindável de coisas para escrever. Mas tal como disse no artigo a que chamei A Maior Flôr do Mundo, como o livro, a tentação falou mais alto e pronto, já está.


"Caim" totalmente devorado.


Uma vez lidas todas as páginas deste conjunto de histórias que Saramago nos trouxe através do insaciável Caim, assassino do seu irmão Abel, continuo a achar que a onda de ódio e de irritação, que ultrapassou já, em muito, apenas o rótulo de polémica, é, tão somente, uma verdadeira histeria. Uma camuflada e caduca tentativa de mal-dizer quem tem opiniões. Sim, opiniões.

Porque é disto que se trata, ou não? A opinião de um autor. Nada mais.


Porque razão ficou tanta gente indignada por Saramago ter escrito coisas como "Quer dizer, além de tão filho da puta como o senhor, abraão era um refinado mentiroso"? Que sociedade é a nossa, quando se insurge um punhado, grande note-se, de pessoas a descredibilizar um homem que tanto deu à literatura e ao país, diga-se fazendo justiça?


Eu sei qual é. É uma sociedade que não questiona. Que aceita dogmas, mesmo que, por definição, nunca conseguirá explicá-los. Que aceita a fúria de Deus, porque ele tudo pode e mais vale cair-lhe nas boas graças, que nas más. E porque assim já era quando nasceram, porque raio haveria agora de mudar?


O que me parece, em boa verdade, é que Saramago, uma vez mais, acaba de prestar um grande serviço público a este país de brandos costumes. Ai, somos todos católicos e acreditamos no senhor, não é verdade?


Mas, quantos de vós, católicos da mão no peito, já leram a bíblia? Mesmo daqui vejo muito poucos dedos no ar. O que ouviram foram interpretações, foram pontos de vista que vos foram sendo passados pela família, Padres ou pseudo-eruditos.


É por isso que muita gente estranha ver uma bíblia na minha mesa de cabeceira. Porque eu, por defeito de formação talvez, científica como convém, tenho aversão a aceitar sem ter meio de provar. E muito menos de falar sobre coisas que... não conheço.


E parece-me que, pelo meio das opiniões que podemos, ou não, partilhar com o Nobel, ele lá vai contando vários episódios Bíblicos, perpetuando a magna história e a palavra do senhor; permitindo, assim, que aqueles que se deixam assustar pelo volume biblico da Bíblia, possam ter acesso a algumas dessas histórias, através das viagens no tempo-espaço do nosso, agora famoso, Caim.


Até o simples nome de Caim. Acho que todos já tinhamos ouvido falar nele, sem dúvida. Mas em boa verdade quem é que o conhecia, de facto?


Agora conhecem. E se quiserem conhecer mais histórias, como esta, têm sempre a Bíblia. Mas preparem-se para uma leitura muito mais prolongada e muito mais difícil do que a de Saramago.

Ah e não se admirem quando lerem e se aperceberem, linha após linha, que o senhor, ao contrário do que andamos todos (??) a tentar implementar no mundo, consegue ser muito pouco tolerante.


Se Saramago tem razão no que diz? Que importa isso?


Pôs-nos a discutir o assunto.


E é isso que importa.


Obrigado Saramago.


BM

3 comentários:

Andrea Santos disse...

Concordo com a histeria generalizada e infundada. Ui, não se pode tocar no nome DO Senhor se não fôr para, a seguir, dizer "Amen".

Gostei do livro, uma escrita maravilhosa... afinal, é nobel!

Curioso, é ver pessoas que baseiam a sua actividade e pensamento diários na ciência, serem devotos e católicos praticantes... nãoe stou a dizer que é mau ou bom, apenas curioso...

Andrea Santos disse...

só mais uma coisa que não tem nada a ver com o post... vais receber as prendas de solestício de inverno (do hemisfério norte) no dia 21? LOL

Bruno Martins disse...

era mto mais giro. com um festival pagão de arte, música e... isso mesmo.

BM