segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

José e Pilar


José e Pilar Trailer Oficial Portugal from JumpCut on Vimeo.

Ontem foi dia de cinema. Um dia como não tínhamos há algum tempo e que apreciei bastante.

O motivo era forte e a curiosidade também. Fomos todos, os quatro, à procura de um pedaço da história da vida de um homem que tanto admiramos. Que aprendemos a ler, mesmo com as suas difíceis pontuações. Sim, podem ser difíceis, estranhas até, mas existem. Só quem não tem profundidade literária suficiente poderá sequer pensar que Saramago não sabe pontuar. Quem me dera a mim saber como ele sabia. Escrever como ele escrevia. Ter ideias como ele tinha. Ser o génio que ele continua a ser.

O filme... mais inesperado não pudera ser. Ver José e Pilar eles próprios, não actores por eles, a viverem as suas vidas, pode até parecer banal. Mas engana-se quem pensa que duas pessoas como eles podem algum dia ter sido algo sequer semelhante a banal. "Juntou-se a fome com a vontade comer", dizia a minha mãe no fim da fita.

Realizada por Miguel Gonçalves Mendes, para quem envio gratas felicitações, esta película vai para sempre ficar como a homenagem que Portugal nunca conseguiu fazer ao seu maior ícone literário da actualidade. Ver o constante corropio que a sua vida se tornou, sendo agraciado e convidado para certames nos quatro cantos do mundo, e depois ver o despesismo com que era tratado no seu próprio país... é um bocadinho revoltante.

O filme traz-nos o génio despido da sua caneta e das suas lombadas. O homem por detrás do computador. E deixa ver como amava Pilar, o seu pilar, como amava a vida, como desprezava deus e como acreditava que um mundo diferente e uma vida melhor são possíveis.

Pergunta a páginas tantas um jornalista: "Pilar, sabe que é polémica em Portugal?" A senhora fica um bocado desconsertada e pergunta "Eu, porquê?" e responde ele "Porque foi a responsável pela fuga de Saramago de Portugal para Espanha!". Pilar empertigou-se e respondeu decidida "Engana-se... isso foi o governo de Cavaco Silva!".

Acho que podia ficar o resto do dia a escrever sobre o filme e sobre Saramago, mas há que produzir que o país está em crise e eu que não acredito nada nessa tanga (o dinheiro desapareceu?!? ou será que está escondido nos bolsos de alguns?!), que acho mera especulação de mercado... vou apenas fazer o melhor que sei e faço.

O Saramago não queria leitores acomodados. Obrigado por me desassossegares!

Abraço,
BM

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