Na mesma noite que antecede a viagem de um jovem soldado português para terras do Ultramar, um animado serão decorre em casa da maior diva do Fado que o mundo já ouvira.
No amplo salão de sua casa na Rua de São Bento, Amália recebeu poetas, cantores, compositores e pintores que, entre poemas, cigarros e muito whisky, permitiam-se filosofar sobre a vida e o amor e, para os mais corajosos e/ou desbocados, tecer críticas de índole política.
Este é o tempo e o espaço de acção de "Uma Noite em Casa de Amália", de 4ªf a domingo, no emblemático Teatro Politeama, levado à cena por Filipe La Féria e protagonizado por Vanessa Silva no papel de Amália.
O elenco é composto por talentosos actores e cantores que nos transportam suavemente para uma realidade não tão longínqua quanto alguns querem fazer parecer. E até mesmo aqueles, como eu, que já nasceram em liberdade, conseguem sentir o modo como se vivia naquela época tenebrosa da nossa história. Mas percebem também que a música, a poesia e as artes podem ser uma enorme arma de resistência e motivação.
A Vanessa Silva, mesmo após 23 Fados, leva o espectáculo às costas até ao seu final, sem falhar uma nota sequer e, em cada uma delas, tem o condão de nos arrepiar ainda mais que na anterior.
Não creio que seja o melhor musical de La Féria, porque já assisti a produções suas realmente memoráveis, como "My Fair Lady" ou "Música no Coração" ou até mesmo "Amália", mas ainda assim é um espectáculo fascinante que vos aconselho vivamente.
Como disse no final, "é impossível sair daqui sem um brilhozinho nos olhos".
Como disse no final, "é impossível sair daqui sem um brilhozinho nos olhos".
Mesmo sem apoios do estado, a nossa cultura não há-de morrer. E esta é só mais uma prova do talento que espera em Portugal por consagração e pelo carinho incondicional dos portugueses.
Como eu gostaria de ver uma rua apinhada de teatros, com portas abertas de par em par e filas a perder de vista nas bilheteiras.
Um dia, talvez.
BM
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